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Trabalhos químicos

Garantindo a Qualidade na Indústria Farmacêutica: A Importância da Validação de Métodos Analíticos

A rotina de controle de qualidade de uma indústria farmacêutica garante, por meio de diversas análises, que os medicamentos produzidos estejam dentro das especificações previamente definidas. Algumas das análises realizadas para avaliar a qualidade de um medicamento são: o teor do princípio ativo e a verificação de produtos de degradação.


Para tanto, é essencial que o controle de qualidade utilize métodos de análise adequados, a fim de garantir que os resultados emitidos sejam confiáveis. É necessário que esses métodos sejam sistematicamente avaliados quanto à sua eficiência e confiabilidade antes de serem implementados. Esse processo de avaliação é chamado de validação.


Por que devemos validar?


A Validação Analítica consiste na avaliação sistemática de um método, por meio de ensaios experimentais, com o objetivo de confirmar e fornecer evidências objetivas de que os requisitos específicos para o seu uso pretendido são atendidos, conforme determinado pela RDC nº 166/2017 (Anvisa). Em outras palavras, deve-se demonstrar que o método está apresentando resultados confiáveis quando comparados com um padrão ou valores utilizados como referência.


Flávio Leite, autor do livro "Validação em Análise Química", descreve a necessidade da validação em uma frase bem esclarecedora: "não ter validação é ter apenas um número, não um resultado". Com isso, a validação deve ser realizada para garantir que a metodologia analítica seja exata e reprodutível sobre uma faixa específica em que uma substância será analisada.


Os estudos de validação são obrigatórios para as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e devem ser compostos por protocolo e relatório. Os protocolos devem ser previamente aprovados e devem conter todos os procedimentos a serem realizados, como, por exemplo, preparo de amostras, condições cromatográficas, procedimentos de execução e critérios de aceitação. O relatório, por sua vez, deve contemplar todos os resultados obtidos, com as devidas discussões e a conclusão de que o método está validado ou não.


Os Requisitos Fundamentais para uma Validação Analítica de Sucesso


Para garantir a validade das validações analíticas, é preciso considerar cinco aspectos primordiais de Boas Práticas de Laboratório (Figura 1).


Figura 1. Principais conceitos contidos dentro das Boas Práticas de Laboratório.


Mão de obra: O laboratório deve contar com analistas capacitados e experientes para realizar as validações analíticas. É importante que esses profissionais sejam qualificados não apenas para realizar os ensaios, mas também para desenvolver e validar os métodos. Afinal, o sucesso da validação depende não apenas dos equipamentos, mas também da competência dos analistas.


Material: Substâncias químicas de referência (SQR), reagentes e outros materiais devem estar dentro do prazo de validade e possuir rastreabilidade dentro do laboratório. É essencial que a qualidade desses materiais seja devidamente comprovada para garantir a confiabilidade dos resultados.


Método: É preciso avaliar se o método analítico utilizado é o melhor para a substância a ser analisada. O desenvolvimento do método deve ser adequado e considerar as propriedades físico-químicas dos analitos.


Medição: É fundamental que todas as medidas realizadas no laboratório sejam confiáveis. Para isso, as vidrarias e equipamentos devem estar devidamente calibrados e qualificados.


Meio ambiente: O laboratório deve proporcionar um espaço seguro e adequado para que os analistas possam realizar as análises. Os equipamentos devem ser instalados de forma correta para garantir a segurança dos profissionais e a confiabilidade dos resultados.


Ao considerar todos esses aspectos, é possível garantir a qualidade e a confiabilidade das validações analíticas realizadas pelo laboratório.


Como Iniciar a Validação?


De acordo com a RDC nº 166 de 2017 (Anvisa), é necessário demonstrar a adequabilidade dos métodos analíticos compendiais ao uso pretendido, nas condições operacionais do laboratório, por meio da apresentação de um estudo de validação parcial (também conhecido como verificação analítica). Os métodos gerais compendiais básicos, como medida de pH, perda por secagem, cinzas sulfatadas, umidade, desintegração, entre outros, e os métodos analíticos descritos em monografias individuais compendiais de insumos farmacêuticos não ativos são excluídos dessa exigência. Por outro lado, os métodos que não estão descritos em compêndios oficiais requerem uma validação completa.


A validação parcial deve avaliar, no mínimo, os parâmetros de precisão, exatidão e seletividade, de acordo com o objetivo do método (Tabela abaixo). Já a validação completa deve avaliar todos os parâmetros exigidos pela tabela abaixo, de acordo com o objetivo do método.


Para ilustrar esse conceito, considera-se um método compendial de doseamento de um insumo farmacêutico ativo, onde há a necessidade de uma verificação analítica para comprovar se o método é reprodutível nas condições operacionais do laboratório. Portanto, apenas os parâmetros de seletividade, exatidão e precisão são necessários para essa validação. No caso de um método de quantificação de impurezas, que também está na farmacopeia, além dos testes mencionados, deve-se avaliar o limite de quantificação.


Parâmetro Avaliado

Método de Identificação

Método Quantitativo de Impureza

Método Ensaio Limite de Impureza

Método de Doseamento

Exatidão

Não

Sim

Não

Sim

Repetibilidade

Não

Sim

Não

Sim

Precisão Intermediária

Não

Sim

Não

Sim

Seletividade

Sim

Sim

Sim

Sim

Limite de Detecção

Não

Não/Sim

Sim

Não

Limite de Quantificação

Não

Sim

Não

Não

Linearidade

Não

Sim

Não

Sim

Intervalo

Não

Sim

Não

Sim

Em alguns casos, pode ser necessário fazer ajustes na metodologia farmacopeica de modo a atender as necessidades do laboratório. Nesse caso, a validação parcial será realizada de acordo com a magnitude dessa mudança. É importante observar que os compêndios oficiais, como as Farmacopeias Americana, Brasileira e Europeia, apresentam limites que não devem ser ultrapassados em alguns parâmetros. Caso algum parâmetro precise ser alterado fora dos limites permitidos pelo compendio, a validação deverá ser conduzida de forma completa, uma vez que o método deixa de ser farmacopeico.


É importante destacar que a validação de métodos analíticos é fundamental para garantir a confiabilidade e a qualidade dos resultados analíticos obtidos em laboratórios. Por isso, deve-se realizar a validação parcial ou completa, de acordo com o objetivo do método, para assegurar que o método é adequado para o uso pretendido e que os resultados obtidos são precisos e confiáveis.


Além disso, a validação parcial também deve ser realizada para métodos transferidos entre laboratórios sob o mesmo sistema de gerenciamento da qualidade, sendo necessário apenas avaliar o parâmetro de reprodutibilidade.


Por fim, a RDC nº 166 de 2017 (Anvisa) determina que os métodos já validados devem ser revalidados em caso de alterações na síntese ou obtenção do insumo farmacêutico ativo, na formulação do produto, no método analítico ou em outras circunstâncias que possam afetar o método validado. Nesses casos, a empresa deve apresentar uma justificativa e análise de risco quando necessário.


Referências Bibliográficas:

  • RDC nº 166 de 2017 (Anvisa) - Validação de Métodos Analíticos

  • RDC nº 512 de 2021 (Anvisa) - Boas Práticas de Laboratório

  • Validação em Análise Química, 5ª edição - Autor: Flávio Leite

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